Durante o
período de quase um ano, entre 2013 e 2014, e depois de acompanhar mais de 70
manifestações, pude conhecer boa parte das pessoas que fizeram parte delas, ou pelo menos, sei bem mais que a maioria dos veículos de
comunicação. Por isso, me irrito um pouco com o grave desconhecimento de alguns amigos meus sobre o assunto.
Quando os
Black Blocs protestam contra o PT, Haddad e Dilma, quase nada sai na
imprensa. Só a parte do “Fora Alckmin” aparece.
Os líderes
desses black blocs já devem ter mudado nesta altura do campeonato, mas na época em que eu ia às manifestações como observador, as três figuras mais influentes tinham idades de 16, 17 e 19
anos, todos de periferia. Destes, dois procuravam emprego em junho de 2013 e um
terceiro pediu as contas de onde trabalhava porque havia virado anarquista
convicto. Sua mãe, dentro do período de um ano, foi buscá-lo na Fundação Casa mais de 6 vezes.
O que
alimenta esta fúria, este ódio que existe nas ruas é a falta de crescimento
econômico. Estas manifestações não são orquestradas pelo PT, como se imagina,
mas são sintomas de uma doença grave na sociedade. Todos estes jovens foram
criados sem a presença de um pai de família. Suas mães, até onde pude
descobrir, apoiam que os filhos se manifestem. Me parece até que eles são os
machos que as mães nunca tiveram…
Ninguém
reparou, mas simultaneamente ao surgimento dos Black Blocs, teve também os
Rolezinhos, como proposta de ação anticapitalista dentro de shoppings. Um olhar
atento permite que a única diferença é que o Black Bloc anda mascarado enquanto
que os jovens dos rolezinhos não andavam mascarados. Naquela época, Netinho de
Paula conseguiu cooptar 2 dos líderes dos Rolezinhos para a organização
“Juventude Comunista”, sendo que o terceiro, que se recusou, acabou morrendo
num baile funk… coincidência
O PT nunca
descobriu quem são os líderes do Black Bloc. Não sei se a Polícia Civil sabe,
acho que sim. A PM sempre soube. Em algumas vezes eles deixaram de deter estes
rapazes, ao que me parece, de propósito. Noutras, espancaram um deles até cair
no chão, e foram “visitar” a casa dos outros dois, sendo que a irmã de um deles
acabou ganhando um soco na cara porque não queria abrir a porta da casa sem
ordem judical, segundo eu soube.
Ainda em 2013, a Polícia Militar fez
uma primeira visita e eles próprios reconheceram que a investida teve propósito
“amigável”. Nestas visitas, os PMs teriam pedido que parassem de xingar os
policiais quando estivessem em serviço e que parassem de quebrar as coisas nas
ruas. O pedido não foi atendido.
Estes
jovens, basicamente, se dividem em dois grupos o black bloc propriamente dito,
composto por jovens com alguma insegurança ou insatisfação em suas vidas
particulares. Mas há ainda o “Front Bloc”, que são as pessoas com disposição à
violência. São estes que chegam com paus, pedras, estilingues, canos, molotovs,
rojões e toda sorte de objetos com propósito de ferir. E, quando não levam é
porque sabem que vão arrumar alguma pedra numa caçamba.
Estes do
Front Bloc são a elite. Ele tem influência sobre alguns amigos e os traz para
as manifestações. A maioria destes moleques estuda na rede pública. Até certo
ponto, organizam-se em “células”. Por exemplo, toda vez que um moleque é
arrastado até a delegacia de policia, ele sai de lá com um boletim de
ocorrência, que depois põe no Facebook e exibe como uma espécie de diploma de
graduação, como quem chega para seus amigos e diz “vejam, eu lutei contra o
sistema”.
As balas de
borracha e gas lacrimogenio são provavelmente a pior forma de conter estes
caras. Cada marca feita no corpo é exibida quase como uma medalha. Por outro
lado, acho que o melhor método mesmo é atravez do grito. Certa vez vi um
comandante do Choque berrar para um moleque que ameaçou quebrar uma vidraça com
um pau. Imediatamente, o PM percebeu que ele estava querendo tomar a liderança
e berrou “LARGA ESSA MERDA!”. O moleque, humilhado perante seus amigos, não fez
outra coisa senão obedecer o PM.
O PT fez
suas tentativas de descobrir quem eram estes jovens. COlocavam militantes do PT
no inicio das manifestações para olhar, conversar e fazer amizades. A maioria
nem chegava perto deles porque já vinham com camiseta vermelha do partido, e
eles detestavam isso. A bem da verdade, quando tinha alguma manifestação
“anti-copa”, os black blocs eram detestados pelo pessoal do PSTU PSOL e PCO e
vice versa. Brigas entre Black Blocs e alunos da USP são provavelmente mais
frequentes do que com a PM.
No que diz
respeito ao MPL, todo mundo se lembra de quando a Dilma chamou a lider para uma
reunião em Brasília em 2013, esta voltou de lá e resolveram parar com as
manifestaçoes. Os Black Blocs continuaram sozinhos por quase toda a metade de
2013. Existe uma estranha confiança entre o MPL e o Black Bloc. O MPL não é
própriamente anarquista, mas conta com seus próprios punks. Na verdade, quando
quiseram trazer o Movimento Passe Livre para São Paulo, uns dirigentes se
encontraram com uns punks que eram de um tal grupo chamado Movimento Punk
Libertário (MPL). Mudaram o nome, mas permaneceram com a sigla.
O PT jamais
quis estas manifestações durante o ano eleitoral e um cientista político
sincero analisaria que estas manifestações fizeram mal para o PT e foi bom para
o Alckmin (que estava com imagem politica comprometida por causa do cartel). A
Dilma mandou o ministro Gilmar Mendes para fazer duas reuniões em São Paulo , ambas
organizadas na Casa de Portugal, com propósito de atrair estes black blocs para
a reunião. Alguns foram, levaram faixas e começaram a agitar dentro da reunião.
Enfim, não há o que se enganar a respeito os black blocs podem ser os
militantes que o PT sempre quis ter, mas definitivamente o PT é o partido que
eles mais odeiam.
Quando alguém toca neste assunto, e digo aquilo que sei em função de ter sido testemunha dos fatos, com frequencia sou confundido como uma espécie de porta-voz destas pessoas: EU NÃO SOU ANARQUISTA e sim, abomino a violência que eles promovem.
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