segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sobre manifestações: um balanço justo da situação

Até agora tem sido um mistério para as autoridades policiais paulistas quem era o suposto líder do Black Bloc, tal como eles colocam. Antes de prosseguirmos, façamos uma rápida revisão sobre a definição do termo black bloc:

"[...] agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum, diferentemente de block: bloco sólido de matéria inerte) é o nome dado a uma tática de ação direta, de corte anarquista, caracterizada pela ação de grupos de afinidade1 mascarados e vestidos de preto que se reúnem para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem. Esses grupos são estruturas efêmeras, informais, não hierárquicas e descentralizadas. Unidos, adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como atacar e destruir propriedades públicas e privadas". (WIKIPÉDIA, 2013).

Apesar da clareza da definição acima, a polícia trabalha na hipótese de que o Black Bloc seja um grupo, ao mesmo tempo em que afirma este ser de composição heterogênea, conforme declarou Wagner Giudice, diretor do DEIC – Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado. Ora, fosse realmente um grupo, algum tipo de fator característico acerca dos que foram intimados a depor unir-los-iam.

De fato, talvez a única coisa característica entre os entrevistados é o fato deles protestarem contra o governo, ou seja, de estarem insatisfeitos com esse aumento abusivo de impostos, inflação, desemprego, demagogia política, casos graves de corrupção na Administração Pùblica, e por aí vai. Dentre as cenas que vi nesses meses de protestos, raramente a polícia age no intuito de coibir aqueles que abusam das manifestações. Muito pelo contrário, as detenções ocorrem bem posteriormente aos atos de vandalismo, e (pasmem) a maioria dos detidos sequer veste-se de preto.

Rito ordinário da polícia, eles dispõem de um helicóptero para observação aérea nestas ocasiões. Tomemos como exemplo o dia 15 de Outubro de 2013: enquanto os policiais efetuavam a prisão de “averiguação” na rua de trás da loja, um outro grupo de manifestantes – estes sim adeptos desta tática Black Bloc – já haviam percorrido a Av. Vital Brasil e iniciado as destruições de um ônibus e pelo menos três veículos de manutenção da concessionária metroviária Via Quatro, no entorno do terminal de metrô Butantã. Como poderiam os policiais perder esta visão, se eles dispunham de um helicóptero para assessorar os que trabalhavam em terra?

A verdade é que os Black Blocs, em parte, beneficia o atual sistema autoritário de governo do Geraldo Alckmin e da Dilma Rousseff, os quais anseiam por implementar uma ditadura neste país (se é que já não vivemos em uma). As prisões e agressões são feitas contra manifestantes pacíficos, fotógrafos, jornalistas, enfim, pessoas pegas pelas “redes de pescadores”. No dia seguinte, a polícia sabe que será cobrada pelo Secretário de Segurança Pública por resultados e cria factoides para alegar suposta competência no combate ao crime. Quando, no dia seguinte, um jornal publica que houve destruição em tal lugar, a mesma matéria termina com a declaração de um major ou coronel da PM informando o número de detidos na mesma noite. Por fim, o que quer a ditadura disfarçada de democracia é criminalizar os que reclamam dos seus governos de merda. Por isso, a declaração do diretor do DEIC é reveladora quando afirma que os manifestantes deviam ser tratados como “torcedores de futebol”...

A sensação é de que quantidade de pessoas detidas é sempre proporcional ao tipo de destruição que ocorreu. Daí o motivo delas serem arbitrárias. Há muito tempo a polícia vem detendo pessoas e já possui perfil meticuloso de cada um. A novidade agora é que eles foram pressionados a agir em conluio aos interesses das poderosas elites econômicas e da grande mídia golpista. Primeiro porque desagrada aos bancos e aos estabelecimentos tidos como “alvo preferido dos anticapitalistas” o fato de ter no território nacional pessoas que não estarão sujeitas à “alegria imbecilizante” do clima de Copa do Mundo que está chegando. E o segundo, a mídia tem muito a lucrar com o mesmo evento. Até porque, notícias sobre jovens de 17 anos que são assassinados por policiais incompetentes gera sentimento depressivo entre seus leitores. Não... o povo quer saber do Brasil ganhando a Copa. Francamente...

E justamente para preservar os interesses dos políticos corruptos, das poderosas elites econômicas e da grande mídia golpista, foram tomadas uma série de ações para coibir manifestações no dia 15 de novembro. Analisemos a sequencia dos fatos:

- 06/11 - Hackers deletaram páginas sobre os Black Blocs de São Paulo e do Rio de Janeiro, além da página dos Anonymous. Seriam hackers ou agentes do governo?

- 08/11 – Revista Época publica revista com entrevista a um tal de Morelli, o qual se denominou líder dos Black Blocs;

- 14/11 – O DEIC chamou 65 pessoas para depor, suspeitas de atuar em ou a favor do “grupo” Black Bloc;

- 15/11 – A polícia militar coloca nas ruas da capital de São Paulo um efetivo exagerado de policiais militares, dispostos em diversas partes da cidade, incluindo no vão livre do MASP, no claro interesse por parte do Estado (em outras palavras, do Alckmin) em coibir as manifestações, ato este que feriu o direito constitucional das pessoas que queriam se manifestar naquele dia.

Conclui-se, portanto, que os intentos do governador Geraldo Alckmin, maior alvo de críticas nas manifestações, e o maior beneficiário em coibir o coro dos descontentes do seu governo, foram alcançados.

Mas também parece que os intentos destes que são adeptos da tática Black Bloc também o foram. Antes, a população formadora de opinião não tinha ideia do grave despreparo da polícia militar e da gestão de segurança pública frente a essa onda de manifestações. A polícia deu graves demonstrações de abuso de autoridade, descontrole emocional, inapta mentalmente, torturas, assédio moral contra manifestantes (inclusive, obtive informações de que um policial que prendeu uma manifestante de 18 anos está cantando e perseguindo a menina, buscando a todo custo fazer sexo com ela). Estes são apenas alguns exemplos.

Uma dúvida ainda permanece no ar: entre campanhas de difamações, entre elas (e a mais grave de todas) contra o GAPP, acusados de ajudar Black Blocs quando na verdade eles atuam como uma espécie de “Cruz Vermelha”, o diretor do DEIC ainda não demonstrou quaisquer intenções de chamar para depor esse tal de Leonardo Morelli. Ora, como pode tamanho desleixo por parte de uma repartição que investiga o crime organizado ignorar a entrevista (ou talvez confissão seja o termo mais apropriado) dada por ele à Revista Época?

A falta de uma ação neste sentido apenas reforça aquilo que já foi afirmado – e amplamente sabido pela população brasileira que não se deixa enganar – de que a entrevista foi forjada e a matéria é falsa. Até que o Morelli seja investigado pela polícia, chamado para depor, indiciado e processado criminalmente, eu não me permitirei em acreditar em qualquer outra versão senão que tudo isto não passa de um embuste da elite poderosa para criminalizar a ânsia de protestar por parte da população. Quanto ao leitor desta, acredite no que bem lhe couber.


Leituras recomendadas:

DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO. Quem é o “líder” dos Black Blocs inventado pela Revista Época. DONATO, M.: 10/11/2013. Disponível em: < http://www.diariodocentrodomundo.com.br/quem-e-o-lider-dos-black-blocs-inventado-pela-epoca/>. Acesso em: 18/11/2013.

BBC BRASIL. Polícia lista suspeitos e defende linha dura contra Black Blocs. KAWAGUTI, L.: 15/11/2013. Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131114_blocs_deic_lk.shtml>. Acesso em: 18/11/2013.


Referência bibliográfica:


WIKIPÉDIA. Black bloc. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Black_bloc>. Acesso em: 18/11/2013.

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