sábado, 3 de maio de 2014

Dinheiro e manifestacao: uma relacao inexistente

Paira sobre as cabecas cerebradas e descerebradas a ideia de que manifestacao so' acontece quando seus participantes estao recebendo dinheiro.

Tal impressao me parece justa, por exemplo, quando se busca entender a hierarquia de um sistema remunerado de pessoas: quem recebe mais e' o chefe, quem recebe menos e' o peao. Isto e' o que acontece dentro das empresas e dentro dos partidos politicos. Sera' que nas manifestacoes o mesmo sistema existe?

No ano de 2013 a ativista do PSOL Sininho revelou um esquema de pagamento do qual partiu do Deputado Freixo e outras pessoas as verbas que financiaram a ativista e uma quantidade de colegas seus.

A partir dai, a informacao foi utilizada como especie de prova incontestavel de que os black blocs eram financiados pela esquerda golpista do Foro de S. Paulo. O proprio Reinaldo Azevedo, blogueiro da revista Veja, personagem que na minha opiniao faz parte da parcela descerebrada, repetiu categoricamente em varios dos seus artigos de que Sininho era do black bloc e como tal, sendo remunerada, provou-se irrefutavelmente de que os ativistas anarquistas das ruas do pais inteiro agiam conforme interesses monetarios.

Se nada pode ser feito com relacao aos descerebrados, apelo aos que ainda preservam alguma quantidade de massa encefalica. Facamos justica aos fatos: Sininho era ativista do PSOL e nao do black bloc. Ao comentarem comigo sobre o assunto, varios daqueles anarquistas das ruas de Sao Paulo me disseram que Sininho era conspiracao entre partido-policia-imprensa. Na cabeca de muitos, ela foi entendida como um factoide criado pelas elites, a fim de publicitar mentiras e denigrir o movimento deles. A despeito de uma divergencia ou outra de opiniao, o ponto de vista medio das pessoas foi de que a imprensa estava dedicada a publicitar fatos inverdadeiros para manter a populacao enganada e mentalmente acorrentada pelas mentiras da grande midia.

E outra coisa: embora eu nunca tenha pisado no Rio de Janeiro durante a vida toda, me parece que a realidade das manifestacoes que havia la tinham vies muito grande com a realidade que pude testemunhar em Sao Paulo. Por exemplo, o numero de familias despejadas me pareceu motivo catalizador das manifestacoes de la. Em Sao Paulo, a situacao foi bem diferente.

Ate onde pude averigua, nunca vi ninguem que se declarou anarquista nutrir simpatia por alguem afiliado a partido politico. A unica demonstracao de "certo nivel de respeito" veio por parte de um gay que foi ate a casa do entao senador Eduardo Suplicy para entregar uma carta, a qual o senador posteriormente leu durante a assembleia (neste link voce toma conhecimento desta carta). O senador, naquela epoca, passou em frente o "Ocupa Alesp", onde ficou conversando por cerca de 1h30 e depois recebeu as pessoas na casa dele, onde pediu para que lhes enviasse um e-mail. Outras situacoes, mais recorrentes que a primeira citada aqui, foram a participacao timida de alguns partidos politicos - entre eles o PCB - Partido Comunista Brasileiro - cuja coexistencia nas ruas nem sempre resultava em atrito, mas 'as vezes ocasionava algum.

O unico relato mais proximo da realidade, publicado pela Veja, foi quando descreveram que os manifestantes bebiam pinga antes das manifestacoes e, ao final delas, comemoravam os vandalismos com pinga. Eu mesmo nunca vi dinheiro circulando nas maos de ninguem. E isto tendo em vista nas varias oportunidades que tive de ser o primeiro a chegar no local de encontro e o ultimo a ir embora. Certa vez, fiquei ate' 'as 4h00 da manha conversando com pessoas no MASP, que horas antes tinham participado de uma manifestacao. Cada um foi embora do jeito que veio. Nenhum dinheiro trocado de maos.

Alguns que leem isto agora poderiam contra argumentar que um militante facilmente poderia ter uma conta bancaria, na qual receberia as transacoes DOC/TED. Acho muito dificil. Quem odeia o "sistema", vandaliza bancos, dificilmente andaria com cartao de debito ou credito. Isto e' uma observacao que faco baseado em opinioes que colhi na epoca.

Durante uma manifestacao, na qual comemorou-se o cinquentenario da contra-revolucao de 1964, uma senhora, jornalista aposentada, estava conversando comigo e me disse sentir-se insatisfeita pelo pouco numero de pessoas que ali compareceu. Disse a ela: "talvez o regime militar nao tenha sido bom para todos e quase ninguem tenha tanta saudade daquela epoca". Observando a reacao dela, respondeu-me que as manifestacoes de esquerda atraem mais gente - segundo ela - porque a esquerda tem dinheiro em abundancia e eles pagam todo mundo.

Infelizmente a realidade e' um pouco mais complexa que isto. Existe, de fato, pessoas que nao dao a minima para dinheiro, nao quebram bancos e patrimonio publico por causa de dinheiro. Para alguns, e' uma aventura. Um rapaz negro de 17 anos, morador da zona leste, fazia questao de aparecer na frente de todas as cameras que encontrava. Mais tarde, segundo "revelacoes" feitas no Facebook, tal intento tinha por finalidade de ser visto e conhecido entre as pessoas do seu circulo anarquista. Isto porque, apos as manifestacoes, ele fazia sexo com outras mulheres dentro das barracas dos "okupas" (Ocupa Alesp, Ocupa Alckmin, por exemplo). Como vimos, neste caso, a motivacao da participacao deste rapaz nas manifestacoes e' mais sexual do que monetaria.

Raros sao os casos que envolvem idealismo anarquista. Um outro rapaz, de 25 anos, vivia comentando em seu perfil no Facebook e blog o quanto gostaria de encontrar um "amor revolucionario". Este e' outro caso em que a atividade social e' desempenhada no intento de encontrar uma parceira para relacionar-se. A maioria das pessoas encontram seus parceiros no bar. Este rapaz, procurou nas manifestacoes.

Ha' ainda um outro caso, de uma mulher, bem mais velha que a maioria, mae solteira e advogada, um caso que virou assunto muito comentado de um suposto caso de estupro que culminou no "desaparecimento" voluntario de um midiativista. Na minha contagem, esta pessoa fez sexo com pelo menos 3 ativistas anarquistas, bem mais novos que ela. Me parece que em dia de manifestacao ela deixava sua filha para traz com a avo e saia 'as ruas atras dos "machos alfa" das manifestacoes. Em todos os aspectos, a impressao que sempre tive desta pessoa e' de alguem que procurava aventura nas ruas.

Como vimos nestes exemplos, a ideia de que manifestantes recebiam R$ 150,00 por diaria de participacao e' um engodo, nao necessariamente criado pela grande midia, mas aumentado por ela. Nesses ultimos meses, temos visto a continuidade das manifestacoes, alguns dos que vinham atuando desde 2013 estao agora na "luta pela agua" e tambem outros manifestantes, contra o PT e a Dilma. Duvido que alguma delas tenha manifestantes pagos.

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